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Morre aos 70 anos cantor e compositor cearense; Governo emite nota de pesar

Ainda durante a tarde deste domingo (30), a polícia de Santa Cruz do Sul já acreditava que a morte tivesse causas naturais.

Por Diário do Sertão

30/04/2017 às 19h03

Belchior durante entrevista em São Paulo em 1986 (Foto: Antonio Lúcio/Agência Estado)

O corpo do cantor e compositor cearense Belchior, que morreu em casa neste domingo (30), aos 70 anos, foi levado pela funerária por volta das 14h30 para o Instituto Médico-Legal (IML) de Cachoeira do Sul, cidade cerca de 100 km distante de Santa Cruz do Sul, onde ele morava.

De acordo com a polícia, um dos médicos do IML relatou informalmente que a causa da morte foi o rompimento da aorta, que indica a morte natural de Belchior. “Esse deve ser o resultado que vai vir no laudo depois. Claro que também serão feitos mais alguns exames, mas em princípio foi isso”, afirmou a delegada Raquel Schneider, da Polícia Civil de Santa Cruz do Sul.

Segundo Raquel, ele será levado ao município de Venâncio Aires para ser embalsamado. Mais tarde, deverá seguir para Porto Alegre e, no início da madrugada de segunda-feira (1), transportado para a cidade de Sobral, no Ceará, onde ocorrerá o sepultamento.

Ainda durante a tarde deste domingo (30), a polícia de Santa Cruz do Sul já acreditava que a morte tivesse causas naturais. “Não havia sinais de violência, nada indicou qualquer outra coisa. Segundo a esposa, Edna, ele não usava medicação, não apresentava problemas de saúde. Eles disseram que sequer tinham remédios em casa”, havia comentado a delegada ao G1.

De acordo com amigos, o artista vivia há quatro anos no município localizado na região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Há um ano e meio ele morava na casa onde morreu, com a esposa. A residência foi cedida a ele por um amigo.

O Governo do Estado do Ceará confirmou a morte e decretou luto oficial de três dias. “Recebi com profundo pesar a notícia da morte do cantor e compositor cearense Belchior”, diz em nota o governador Camilo Santana. “O povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que fez e pelo legado que deixa para a arte do nosso Ceará e do Brasil” (veja íntegra da nota abaixo).

O traslado do corpo será feito pelo Governo do Ceará, que aguarda liberação das autoridades gaúchas. A assessoria do governo disse também que o chefe da Casa Militar do Ceará, coronel da Polícia Militar Túlio Studart, entrou em contato com o chefe da Casa Militar do RS, e que eles aguardam o resultado do laudo oficial.

Veja a íntegra da nota oficial do Governo do Ceará:
“O Governo do Ceará lamenta profundamente o falecimento do cantor e compositor cearense, Belchior, aos 70 anos, na noite deste sábado, 29, na cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul. E informa que está prestando todo o apoio à família, inclusive providenciando o traslado do corpo para Sobral, sua cidade natal. O governador Camilo Santana está decretando luto oficial de três dias. Belchior é dono de uma trajetória artística da mais absoluta importância para a cultura do Estado. Sua carreira o levou ao patamar de um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira, promovendo o nome do Ceará em todo o Brasil e no mundo”.

Nascido em 26 de outubro de 1946, Belchior foi um dos ícones mais enigmáticos da música popular no Brasil, com mais de 40 anos de carreira.

Teve o primeiro sucesso nos anos 70 ao lado do também cearense Fagner, com a faixa “Mucuripe”. Com o disco “Alucinação” (1976), lançou clássicos como as faixas “Apenas um rapaz latino-americano”, “Velha roupa colorida” e “Como nossos pais”, essa última que se tornou conhecida na voz da cantora Elis Regina.

Paradeiro
Segundo o colunista do G1, Mauro Ferreira, o cantor não tinha paradeiro certo desde 2008. Em 2007, a família reclamou do sumiço do artista, que abandonou a carreira; e nem mesmo seu produtor musical conseguia contato. A partir daí, foram surgindo boatos a respeito do paradeiro do cantor.

Segundo reportagem do Fantástico, Belchior abandonou ao menos dois carros, sem explicação. Um deles, deixado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, acumulando milhares de reais em dívidas de estacionamento. Outro veículo, uma Mercedes Benz do cantor, foi largado em um estacionamento também em São Paulo, onde ele morava antes de ir para o Uruguai.

Belchior chegou a ser procurado pela polícia em 2012 devido a uma dívida, à época, de US$ 15 mil em um hotel na cidade de Artigas, no Uruguai, por seis meses de diárias. No fim daquele ano, em meio à polêmica, foi visto em Porto Alegre, mas não quis gravar entrevista.

Trajetória
Na infância no Ceará, Belchior estudou piano e música coral e trabalhou no rádio em sua cidade natal. Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à música.

Começou apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Depois do sucesso de “Mucuripe”, mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de televisão. Em 1974, lançou seu primeiro disco, “A palo seco”, cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.

Outros artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos (“Mucuripe”) e Erasmo Carlos (“Paralelas”), Engenheiros do Hawaii (“Alucinação”), Wanderléa (“Paralelas”) e Jair Rodrigues (“Galos, noites e quintais”). Elis Regina foi uma de suas maiores intérpretes: além de “Como nossos pais”, gravou “Mucuripe”, “Apenas um rapaz latino-americano” e “Velha roupa colorida”.

Em 1982, o cantor lançou “Paraíso”, que tem participações dos àquela época ainda jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983. Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.

G1

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