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Francisco Cartaxo

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Timidez de Ivan Bichara

14/05/2018 às 11h40

O ex-governador Ivan Bichara com Valiomar Rolim

O centenário de nascimento de Ivan Bichara Sobreira, comemorado este mês, tem despertado a atenção para várias facetas da atuação profissional, política e literária do ilustre cajazeirense. Estão pesquisando sua vida como jornalista, deputado estadual, deputado federal e governador, além, é claro, do escritor de romances e ensaios literários. Um amigo meu, que vestia calça curta quando Ivan Bichara era governador na década de 1970, por exemplo, suspeita ser Ivan um homem tímido. Não tinha certeza, apenas suspeita.

Sem dúvida, Ivan era muito tímido, eu confirmei ao telefone, e tem mais, ele sempre demonstrou senso do ridículo, até com certo exagero. Por isso, era muito difícil que Ivan se envolvesse em situações capazes de tirá-lo da sobriedade. Sobriedade, uma marca forte de seu perfil de cidadão e de político. Impossível alguém surpreendê-lo a praticar gesto descomedido, fanfarrão. Enfim, a história não registra bravatas de Ivan. Bravatas, aliás, recorrentes entre políticos, usadas para impressionar interlocutores como arma destinada a conquistar plateias e votos.

Ivan era tímido até para pedir votos.

Guardo na memória, embora já meio esgarçada pelo tempo, cenas de um comício na Avenida Presidente João Pessoa, em Cajazeiras, promovido pela coligação UDN/PL na campanha eleitoral de 1958. Campanha dominada pela manipulação das frentes de emergência, criadas para tangenciar o desemprego provocado pela grande seca daquele ano. Nessas ocasiões a providência governamental corriqueira era abrir frentes de trabalho para construção de estradas, açudes, realizar capinação e limpeza urbana, contanto que fosse dado precário emprego à massa de trabalhadores rurais sem ocupação nas suas atividades costumeiras nas lavouras de inverno.

Em ano de eleição, o controle político desses serviços emergenciais era a principal um celeiro de votos, coisa que velho PSD de Juscelino Kubitschek fez muito bem em 1958. Não era só isso. A legião de flagelados ou cassacos abrigava também falsos trabalhadores, infiltrados no rol dos alistados, só para receber o miserável salário pago pelo governo federal. A seca de 1958 deu margem a um dos episódios mais visíveis de corrupção política na história do Nordeste.

Voltando a Cajazeiras.

No palanque armado havia mais de uma dezena de postulantes aos cargos de deputado e senador, inclusive Ivan Bichara, então candidato a deputado federal pela segunda vez. Ele não se afastou do discurso tradicional de filho da terra que, mesmo sem residir aqui e afastado das disputas locais, desenvolvia intensa ação parlamentar em proveito de Cajazeiras. Mas as atenções do público se centraram, naquela ocasião, na figura de João Agripino, deputado federal desde 1947, político de grande expressão nacional atuando na antiga UDN. Tão forte que tomara o comando da UDN paraibana do senador Argemiro de Figueiredo. Uma parte da fala de João Agripino foi dedicada ao filho de Cajazeiras. Se vocês não quiserem votar em mim, disse, sufraguem o nome de Ivan Bichara, seu ilustre conterrâneo.

Isso ajudou, talvez, a ampliar aqui os votos de Ivan, filiado ao Partido Libertador – PL, naquele ano, aliado da UDN. No plano nacional, Ivan integrava a bancada de oposição, na qualidade de vice-líder da minoria. Talvez se não fosse tão tímido, ele tivesse tido melhor sorte. Mas Ivan era assim, meio sem jeito para a política, como ele mesmo reconheceu, tempos depois.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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