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Damião Fernandes

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SANTO ANTÔNIO: o menino e o livro

14/06/2018 às 11h44 • atualizado em 14/06/2018 às 12h07

Santo Antonio

Na tradição iconográfica sobre a Virgem Maria é natural e quase obvio que tentamos uma retratação da Mãe que traz em seus braços o Menino Jesus. A Virgem Maria aparece então quase sempre trocando olhares de amor, de candura e de cuidado com o Menino Jesus. Nos braços, a ternura maternal da mãe que embala seu filho, dedicando-lhe segurança. A mãe que apresenta o menino ao Mundo e a cada pessoa. A Mãe que oferece o menino Jesus como o Caminho, a Verdade e a Vida. A mãe que ao apresentar o menino, faz a exposição da grande causa da salvação do gênero humano, quando Deus entra no mundo, se faz carne e habita no meio de nós. Em Maria e por meio dela, vemos de forma evidente e eloquente a manifestação do Mistério da Encarnação do Verbo. “O verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Como nos vai o Papa Bento XVI: “Aqui a palavra “carne”, segundo o uso hebraico, indica o homem na sua integralidade, todo o homem, mas propriamente sobre o aspecto da sua transitoriedade e temporalidade, da sua pobreza e contingência. Isto para nos dizer que a salvação trazida por Deus se fazendo carne em Jesus de Nazaré toca o homem na sua realidade concreta e em qualquer situação que se encontra”.

É impossível desassociar a Virgem Maria do mistério da Encarnação como é impossível desassociar o mistério da encarnação da Virgem Maria, pois ambas realidades coabitam e coexistem na construção de um mesmo mistério. “Na Anunciação, Maria dá no seu seio a natureza humana ao Filho de Deus” (João Paulo II, mensagem do Papa na ocasião da XVIII JMJ). Então é compreensível que diante de mistérios da Revelação e da teologia, a arte iconográfica siga nas suas construções estéticas como fonte de revelação desse mistério, a representar a Virgem Maria, tendo em seus braços o Filho de Deus encarnado.

Entre os grandes santos Doutores da Igreja e outros de diversas expressões, percebemos uma estreita relação entre a Virgem Maria e Santo Antônio de Pádua. É fácil ler, no contexto da iconografia, uma grande cumplicidade entre Maria e Santo António. É possível facilmente perceber essa relação quando vemos que o santo de Pádua é um dos poucos santos que é apresentado pela iconografia da Igreja como aquele que traz o Menino Jesus em seus braços, tornando-se assim – ao lado da Virgem Maria e de São José – um dos santos-ícone do Mistério da Encarnação do Verbo. É claro que na história da Igreja, temos a presença de Santos Doutores da Igreja, que apresentaram em suas vidas uma particular devoção ao Menino Jesus, tais como: Santa Tereza D’Avila, São João da Cruz e Santa Terezinha do Menino Jesus. Santos que viveram fielmente essa devoção e sobretudo se tornaram grandes propagadores.

Portanto, o curioso é que nenhum destes são representados pela iconografia cristã, trazendo em seus braços o Menino Jesus. Vemos que assim como a Virgem Maria, o Santo de Pádua aparece com o Menino nos braços: Algumas vezes, segurando Jesus com os dois braços e outras vezes, com um braço segurando Jesus e no outro ostentando o Livro da Palavra de Deus, fazendo assim uma clara alusão ao grande mistério da Encarnação do Verbo. E vemos assim uma profunda e uma estreita relação entre “O verbo de Deus se fez carne” de João 1,14 e “o Logos, que está com Deus, o Logos que é o Deus, o Criador do mundo (cf. João 1, 1), pelo qual foram criadas todas as coisas (cf. 1, 3), que acompanhou e acompanha os homens na história com a sua luz (cf. 1,4-5; 1,9), transforma-se um entre os outros, toma morada em meio a nós, transforma-se um de nós (cf. 1,14)” (Bento XVI, Catequese de Bento XVI: Mistério da Encarnação – 09/01/2013).

Na iconografia antoniana, é possível perceber uma profunda relação do santo com o mistério da Encarnação e o da Revelação do Verbo – Palavra de Deus: “O Verbo e o Logos”: Deus que se encarna e se faz gente, Deus que se encarna e se faz palavra, linguagem humana em anúncio da Boa Nova. Não é por acaso que Santo Antônio é conhecido com um dos maiores pregadores da Palavra de Deus e conhecedor da Bíblia e da Teologia. E ainda não é coincidência o fato de que, de todo o seu corpo, somente a sua língua se manteve intacta e incorruptível. Todo o corpo do Santo de Pádua virá pó, mas milagrosamente a sua língua, o grande instrumento de anúncio do Verbo – (Palavra de Deus encarnada), está santamente preservada na Basílica de Santo Antônio em Pádua. Antônio é um homem que viveu em sua vida, de modo particular o mistério da encarnação, se fazendo no mundo a linguagem de Deus no meio dos homens.

A Virgem Maria e Santo António de Lisboa. Os dois com o Menino Jesus nos braços, no coração, nos lábios e na vida. A Virgem Maria e Santo Antônio, por providência divina, se tornam instrumentos de um Deus que faz carne, assumindo a humanidade pecadora para salvar o homem com suas misérias. Vai nos dizer a Igreja que “nascendo da Virgem Maria, Ele se fez verdadeiramente um de nós, em tudo similar a nós exceto no pecado” (Constituição Gaudium et spes, 22). Maria e Antônio, cada um por chamado particular e próprios na missão, se tornam canais de revelação de que a Salvação de Deus encarnado deve alcançar á todos homens e as mulheres de todos os tempos. E ainda indicar que esta salvação alcança o homem na sua integralidade, sobretudo no aspecto da sua fragilidade por causa do pecado, da sua pobreza e finitude por causa da morte, ou seja, a salvação trazida por Deus através da sua encarnação, toca o homem na sua realidade concreta e em qualquer situação que se encontra. Deus assumiu a condição humana para curá-la de tudo aquilo que a separa Dele.

Como Maria e como Santo António, experimentemos também viver de coração aberto e de mãos abertas para acolher e saborear o dom de Deus (Hb 6,4) e experimentar a beleza da Palavra de Deus (Hb 6,5). Maria e Santo António, com o Livro (a Palavra) e o Menino (o verbo de Deus), representam uma nova cultura e um novo caminho para o ser humano, não mais fundamentada na mentira das histórias falsas sobre nós mesmos e sobre os outros, na esclerose ou dureza do coração, no poder e na violência, mas na ternura, no amor, na suavidade e na verdade de um menino que repousa seguro em seus braços e assim se torna a segurança e a salvação do Mundo.

NOTAS

BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de Jerusalém (Ed. Revista). São Paulo: Paulus, 2002.

JOÃO PAULO II, papa. Mensagem do papa João Paulo II em preparação para a XVIII Jornada Mundial da Juventude a Celebrar no próximo Domingo de Ramos 2003. Disponível em http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/messages/youth/documents/hf_jp-ii_mes_20030311_xviii-world-youth-day.html. Consulta em 13 de Junho de 2018.

BENTO XVI, papa. AUDIÊNCIA GERAL Sala Paulo VI. Disponível em http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2013/documents/hf_ben-xvi_aud_20130109.html.

Consulta em 13 de Junho de 2018.

CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et Spes. Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo de hoje. São Paulo: Paulinas, 1966.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

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Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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