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Francisco Cartaxo

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O futuro de Marcelo Odebrecht

02/02/2016 às 15h45

Por Francisco Frassales Cartaxo

Muitos duvidavam que ele seria preso pela Operação Lava Jato. E, se fosse preso, logo ganharia a liberdade. Ele permanece mais de seis meses na preventiva. É bem verdade que foi um dos últimos empresários a ser recepcionado pelo japonês da Federal. Demorou, mas foi. E é verdade também que a cúpula do Judiciário brasileiro não autorizou o seu relaxamento prisional. Logo, não se trata de implicância de procuradores e delegados federais e do juiz Sergio Moro. Até o presidente do STF, Ricardo Lewandowski colocou sua pá de cal no desejo de Marcelo Odebrecht dar adeus à prisão. Esta decisão teria sido, aliás, a causa do nascimento, dizem, da ideia do manifesto dos advogados contra a Lava Jato.

Já entre deputados o clima é outro. 

Mesmo preso, Marcelo Odebrecht recebeu louvação de herói na CPI de Brasília. Nem parecia um indiciado à disposição da força-tarefa contra a corrupção. O palco foi armado, não para interrogá-lo, mas para enaltecê-lo. Uma enfieira de parlamentares derramou elogios no microfone, imbuídos do sentimento da gratidão. Também pudera, são eternos caça-níqueis para suas campanhas eleitorais, verdadeira “frente ampla” de partidos e facções políticas. Ah, o nosso Congresso Nacional! 

No Paraná, contudo, prosseguem as investigações. 

Semana passada, o Ministério Público Federal denunciou ao juiz Sergio Moro o grupo Odebrecht. Não é um grupo econômico qualquer. Uma multinacional. Existe há mais de 70 anos, atua em toda parte. Nos Estados Unidos, Europa, América Latina e África. No Brasil é o primeiro em vários setores. O MP pede a condenação de cinco dirigentes empresariais e do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, enquadrados em três crimes: corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Nas alegações finais, também se requer a devolução de 6 bilhões de reais. Um exagero, só explicado pelas pesadas multas em cima de quem desviou tantos recursos da Petrobras. O processo, agora na Justiça, está nas mãos de Sergio Moro, a quem cabe dar a sentença de primeira instância. Portanto, existe muito chão pela frente.

Vi na televisão o advogado Nabor Bulhões.

O mesmo que Collor contratou em 1992. Agora defende Marcelo Odebrecht. Com fala aprumada, traçou o perfil de um santo. São Marcelo, o protetor dos políticos… Para ele, a denúncia não tem provas nem nada consistente que o ligue ao esquema de desvio de 300 milhões de reais. Nenhum dos três delatores premiados (Youssef, Paulo Roberto e Barusco), o acusou diretamente. As testemunhas arroladas, em número de 97, isto mesmo, 97, também o inocentaram. Tudo isso, segundo o advogado Bulhões, que adota a velha máxima de guerra: a melhor defesa é o ataque. Portanto, ele acusa a força-tarefa do Paraná de operar meios ilícitos, tortura psicológica para constranger os denunciados e ameaça: a democracia corre perigo, as garantias individuais estão em jogo. Como se vê, Bulhões segue a mesma linha do manifesto dos advogados, que carrega as tintas em cima dos investigadores, acusados até de usar métodos semelhantes àqueles aplicados na ditadura! É duro mexer com poderosos.

Quantos anos Marcelo Odebrecht vai pegar na primeira instância? Difícil saber. E quando chegar à instância superior? O Tribunal em Brasília acatará teses que estão sendo geradas, cheia de artimanhas processuais? Só Deus sabe. Paira no ar, contudo, um sentimento de que haverá punição até o fim da linha. A gente começa a perceber que é duro ser corrupto no Brasil de hoje. Até mesmo aqui no sertão da Paraíba.

P S – Agradeço a monsenhor Gervásio Queiroga o envio da íntegra da carta do Vaticano ao bispo do Crato sobre padre Cícero.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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