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Nadja Claudino

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Jango e o comício das reformas

12/03/2014 às 21h21

No dia 13 de março de 1964, há exatos cinquenta anos, os brasileiros assistiram o comício que ficou conhecido como o Comício das Reformas, ato político que prenunciou o fim do governo João Goulart. O grandioso comício da Central do Brasil, no Rio, levou seu governo ao fim, pois os discursos e as propostas levadas ao palanque por Jango desagradaram os conservadores e os setores militares, dando mais um pretexto para às pretensões golpistas dos militares.

Latifundiário, um estancieiro, como se costuma dizer no Rio Grande do Sul, João Goulart estava distante de ser um comunista. Mesmo assim, Jango se viu constantemente acusado de ser um agente do comunismo. Os setores mais conservadores da sociedade sempre o perseguiram. No governo democrático de Vargas (1950-1954), quando foi Ministro do Trabalho, ele não deixou de causar desconfiança na direita e nos liberais conservadores que o tachavam de “chefe do peronismo”, regime político argentino com base populista, ou de “demagogo sindicalista”, por sua aproximação com as classes trabalhadoras. 

Jango se tornou presidente do Brasil com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, que se queixou das tais “forças ocultas”.  Jango estava em viagem oficial a China Comunista. O congresso nacional aproveitou-se disso para empossar  na presidência da República Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Os meios de comunicação foram os primeiros a noticiar a crescente oposição dos militares à posse de Goulart, político considerado pelos militares e pela direita como um esquerdista inimigo do capitalismo. Havia o temor que o próprio Goulart, apoiado pelo povo, representado pelas classes trabalhadoras sindicalizadas desse um golpe e se perpetuasse no poder sendo chefe de uma “República Sindicalista”, como diziam seus opositores. 

O governo de Goulart durou de 1961 até 1964, passando por duas fases distintas, a primeira sob o parlamentarismo, regime político que limitava os poderes do presidente. Em 1963, a volta do presidencialismo foi votada em um plebiscito.

O governo presidencialista de Goulart foi marcado pela forte oposição a suas medidas governamentais. O Plano Trienal, que tinha como objetivo a melhor distribuição do desenvolvimento econômico, que para sua plena realização necessitava  da redução do processo inflacionário, sofreu graves críticas dos setores sindicais e das organizações nacionalistas e de esquerda, o que representava uma derrota política para Goulart e algo preocupante para o seu governo. Dessa forma, Jango que já sofria forte oposição das classes conservadoras, também passava a sofrer oposição dos seus aliados históricos, os trabalhadores. Os grupos de esquerda também desconfiavam de suas intenções socialistas.

Sentindo-se acuado, João Goulart, protagonizou o comício da Central do Brasil, e deu a suas propostas um tom mais a esquerda. Com esse comício Goulart procurava apoio para as chamadas Reformas de Base do seu governo, a exemplo da Reforma Universitária e da Reforma Agrária.  Os militares de olho em tudo que acontecia, viram naquelas propostas que apenas apontavam melhorias para o povo, a ameaça do comunismo internacional, representada pela URSS. 

Para contra atacar o “comício das reformas” foi realizado em São Paulo “A Marcha da Família com Deus e pela Liberdade” que contou com cerca de 500 mil participantes. Essa marcha foi organizada pelos setores mais reacionários do período que pregavam o anticomunismo e a defesa da propriedade privada. Deputados da UDN e do PSD também participaram da marcha. Dias depois o golpe militar saiu  vitorioso, quase sem nenhuma resistência por parte de João Goulart e de seus aliados. Goulart não quis desencadear uma guerra civil e foi para o exílio no Uruguai. Assim terminava laconicamente o último governo populista brasileiro e o Brasil entrava na noite tenebrosa que foi a ditadura militar. Mas isso, é assunto para mais adiante. 

Nadja Claudino

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Contato: [email protected]

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