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Francisco Cartaxo

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Assombrações de Pizzolato

16/02/2014 às 23h54

Henrique Pizzolato é um mensaleiro original. Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão em regime fechado, e multa de R$ 1,3 milhões, nem esperou o anúncio da pena. Fugiu para Itália, no gozo da dupla nacionalidade, por ser descendente de italianos da numerosa colônia de Concórdia, Santa Catarina. Saiu do Brasil deixando rastro. Se fosse ladrão de galinha, ficariam manchas de sangue no terreno do vizinho ao escalar muro cheio de caco de vidros. Mas Pizzolato não é ladrão de galinha. Assumiu a identidade do irmão Celso, morto 30 anos atrás. Virou assombração. E esgueirou-se sem ter condição de apagar suas pegadas, só agora expostas na Itália com sua prisão no dia 5 deste mês. Antes, misterioso, Henrique Pizzolato registrara testamento em cartório, indicando o desejo de ter o corpo cremado. Assim apagaria seu rastro. 

Estaria com vergonha de si mesmo? 

Quem se envergonhou foi o líder do PT na câmara federal, o deputado Vicentinho, paulista nascido em Acari (RN). Em desabafo de sertanejo nordestino ele disse: “Quando foge parece que está assumindo a culpa. É um sentimento de vergonha que fica para a militância do PT”. Não teve, portanto, a saliência de erguer o braço à Mandela, num gesto de herói. Herói papagaio. Agressivo. Vazio de sentido. 

Funcionário do Bando do Brasil, a militância política de Henrique Pizzolato começou no sindicalismo bancário paranaense, onde também se fez ativo membro do PT: candidato a governador, vice-governador e a vice-prefeito de Toledo. Sem sucesso. No BB chegou a diretor, eleito pelos funcionários. Em 2002, engajou-se na campanha eleitoral de Lula, atuando ao lado do tesoureiro Delúbio Soares. Daí para diretoria de Marketing do Banco do Brasil foi um pulo. Revelou-se então sua trajetória de malfeitorias, segundo o entendimento formal do Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Penal 470, o chamado mensalão petista. 

As investigações policiais levaram à conclusão de que Pizzolato teria autorizado a transferência de R$ 73 milhões de recursos públicos para compor um fundo destinado a financiar o esquema de compra de apoio partidário, pelo núcleo chefiado por José Dirceu. O Ministério Público Federal aprofundou a análise do mecanismo que incluía o Fundo Visanet como repassador para empresas do publicitário Marcos Valério, dando-lhe meios financeiros de operar o esquema de corrupção por todos conhecido. Pizzolato estaria assim no coração do sistema (copiado do PSDB de Minas Gerais), que foi desvendado para o país quando da fase de julgamento da AP 470, em transmissões ao vivo pela TV Justiça. 

Henrique Pizzolato nega ter praticado crime contra o Tesouro. Sua tese, porém, foi rejeitada pela mais alta corte de Justiça. Investigado, processado, julgado, condenado, preferiu o caminho da fuga, antes mesmo de ser apenado, deixando rastro de outros delitos menores, feito assombração. Quem sabe, esteja arrependido de não ter seguido a trilha da delação premiada, adotada por Silvinho do PT, aquele dirigente partidário que tinha numa Land Rover seu sonho de consumo… Mas isso é história para mais adiante.     

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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