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Francisco Cartaxo

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A morte do cangaceiro Cocada

15/04/2013 às 14h54

Cocada era um bandido chegado a “perversões de ordem moral. Bíblia em mãos, forçava mulheres a fazerem um juramento. O conteúdo da promessa era a entrega do próprio corpo ao cangaceiro. Dessa forma, o astuto deflorador agia desde razoável lapso de tempo”. Assim, o juiz de direito Sérgio Dantas resumiu o perfil de Manoel Marinho, o Cocada, que atuou no final do século 19 e início do século 20, integrado ao bando do famoso cangaceiro Antônio Silvino. Como se nota, Cocada era um tarado.

Manoel Marinho, o Cocada, nasceu por volta de 1866, no lugar chamado Guarita, do município de Itabaiana, quase na divisa da Paraíba com Pernambuco. No cangaço foi uma figura menor e tinha conduta muito diferente da de Antônio Silvino. Este pautava sua ação bandoleira seguindo alguns princípios morais, costumava respeitar as famílias de suas vítimas, naquele mundo de violência, brutalidade policial, assalto, roubo,
perversidade, mortes chocantes, deixando a população de vasta área do Nordeste em permanente clima de insegurança, medo e terror.

Certa vez, uma ordem do chefe Antônio Silvino para molestar viajantes, perto do povoado de Mogeiro, gerou desavenças entre seus homens e colocou os cangaceiros Rio Preto e Cocada em posições conflitantes, em atitude de insubordinação. Algo inaceitável no cangaço. Por isso, Cocada teve de formar um subgrupo autônomo. Não se tornou, porém, inimigo de Silvino, tanto que a ele se juntava quando da execução de importantes ações criminosas, aliás, uma prática comum a todas as fases da história do cangaço. Cocada liderou seu pequeno grupo durante três a quatro anos, adquirindo fama de perverso a aterrorizar lugarejos, fazendas e engenhos.

Cocada terminou vítima de suas perversões. Conta o juiz-escritor Sérgio Dantas que, em fins de novembro de 1907, ele “tentou desvirginar uma das filhas de seu companheiro, José Félix Pacheco, o Pinica-pau. A atitude, claro, foi desaprovada pelo próprio Félix e demais homens do bando.” Que fizeram então? “Armaram uma cilada para Cocada e em lugar seguro o mataram com trinta e cinco facadas. Ao fim do trucidamento lhe arrancaram uma orelha e guardaram como troféu e prova da façanha”.

Que fim teve a orelha de Cocada?

Ainda segundo o juiz Sérgio Dantas, “Quando presos, posteriormente, os cangaceiros envolvidos na morte de Cocada entregaram a orelha do bandido à Polícia de Timbaúba. O capitão Filadelfo Dutra a colocou em um frasco de álcool e deixou o bizarro troféu à vista da legião de curiosos que acorreu à Delegacia.” Esta é uma das versões para a morte de Manoel Marinho. Existem outras. Por exemplo, ele teria morrido após
troca de tiros com a polícia, nas proximidades de Serrinha, hoje cidade de Juripiranga. Outra versão, fantasiosa, fala em morte por causa de problemas intestinais graves pela ingestão excessiva de abacaxi…

Obtive esses dados no livro “Antônio Silvino – o cangaceiro, o homem, o mito”, de Sérgio Augusto de Souza Dantas, juiz de direito em Natal, sua terra. O autor já publicou mais dois livros: “Lampião e o Rio Grande do Norte – a história da grande jornada” e “Lampião entre a espada e a lei”. A segunda edição da biografia de Antônio Silvino foi publicada em Cajazeiras, em 2012, pela Editora e Gráfica Real. Sem dúvida, um motivo a mais para ler o bem fundamentado estudo do juiz Sérgio Dantas.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

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